Nos últimos dias, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, reforçou suas intenções de expandir a influência territorial americana, destacando o interesse em assumir o controle ou adquirir a Groenlândia e o Canal do Panamá. Segundo Trump, essas ações seriam motivadas tanto por questões de segurança nacional quanto por interesses comerciais estratégicos.
Diferentemente de declarações provocativas recentes, como a sugestão de que o Canadá poderia se tornar o “51º Estado” americano, Trump adotou um tom mais sério ao abordar essas propostas. Ao anunciar a nomeação de um novo embaixador na Dinamarca, que supervisiona a Groenlândia, o presidente eleito sinalizou que sua antiga oferta de compra do território, feita em 2019, poderia evoluir para uma abordagem mais firme no novo mandato.
A Groenlândia, rica em minerais de terras raras e estrategicamente posicionada no Ártico, tornou-se ainda mais relevante em meio à abertura de novas rotas comerciais devido ao derretimento do gelo polar. Trump reforçou sua visão em redes sociais, afirmando que “a propriedade e o controle da Groenlândia são uma necessidade absoluta” para a segurança dos Estados Unidos e a liberdade global.
Paralelamente, o presidente eleito criticou as taxas cobradas pelo uso do Canal do Panamá, classificando-as como abusivas. Trump ameaçou abandonar o tratado assinado durante o governo de Jimmy Carter, que transferiu o controle do canal ao Panamá, caso as tarifas não fossem revisadas. Ele também manifestou preocupação com a possibilidade de que o canal caia em “mãos erradas”, referindo-se à crescente presença da China na região.
As reações internacionais foram imediatas e contundentes. O governo da Groenlândia, liderado pelo primeiro-ministro Mute B. Egede, rejeitou categoricamente a proposta, afirmando que “a Groenlândia não está à venda e nunca estará.” Da mesma forma, o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, defendeu a soberania de seu país, declarando que o canal “continuará sendo uma parte inegociável do Panamá.”
Embora as propostas de Trump tenham gerado indignação, especialistas reconhecem que elas refletem uma visão expansionista reminiscentes do colonialismo do início do século XX. A abordagem agressiva do presidente eleito busca consolidar interesses estratégicos em meio à disputa entre Estados Unidos, China e Rússia por influência no Ártico e outras regiões cruciais.
Historicamente, a Groenlândia já foi alvo de interesse americano. Em 1946, o presidente Harry Truman tentou comprar o território como parte da estratégia da Guerra Fria. Hoje, as ambições de Trump são interpretadas como uma resposta à crescente presença chinesa na região, incluindo investimentos em infraestrutura e rotas comerciais.
Marc Jacobsen, professor associado do Royal Danish Defense College, observou que, embora os dinamarqueses rejeitem as propostas de Trump, a Groenlândia pode tentar usar o interesse americano para atrair investimentos econômicos, especialmente em turismo e mineração. Apesar de ter o direito de declarar independência desde 2009, a Groenlândia ainda depende fortemente da Dinamarca e não optou por se separar.
No caso do Panamá, a posição de Trump pode estar ligada a uma disputa pessoal passada. Em 2018, a Trump Organization foi despejada de um hotel na Cidade do Panamá após uma longa batalha judicial, o que resultou na remoção do nome Trump da propriedade.
As ambições de Trump evocam questões sobre soberania, segurança e equilíbrio geopolítico. Enquanto a comunidade internacional reage às declarações, especialistas ressaltam que qualquer mudança desse porte dependeria não apenas de negociações diplomáticas, mas também do consentimento das populações locais.
Fonte: Estadão
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