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Essa escola pediu aos alunos uma redação do Enem 100% feita pelo ChatGPT

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Foto: Irissca/Adobe Stock

As ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa, como o ChatGPT, estão transformando as rotinas escolares. Para evitar abusos, os professores decidiram integrar a tecnologia em sala de aula, permitindo que os alunos explorem suas potencialidades de forma prática.

No Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, por exemplo, os alunos do ensino médio foram desafiados a produzir uma redação no estilo do Enem utilizando exclusivamente IA, sem adicionar qualquer conteúdo autoral. O resultado foi uma avaliação mista: a maioria dos textos apresentou inconsistências e falta de fluidez, levando a notas medianas. Apenas uma aluna se destacou, pois soube direcionar a IA de forma eficaz. “Quando a ferramenta é usada para aprofundar o conhecimento, o resultado é notável. Mas quando é usada para terceirizar o trabalho, o efeito é ruim. Um bom resultado depende de um bom comando”, afirma o professor Lucas Chao.

A IA está presente em várias disciplinas na escola, e a instituição incentiva os professores a incorporar essa tecnologia em suas atividades, sempre garantindo que os resultados não sejam considerados autorais. “Criamos um manual que serve como guia para o uso da IA generativa”, explica Chao.

Para ele, é crucial que esses sistemas sejam integrados ao ambiente escolar, preparando os alunos para o mercado de trabalho. No entanto, é importante lembrar que exames como vestibulares ainda utilizam métodos tradicionais de avaliação. “Reconhecemos que essas ferramentas são importantes e vieram para ficar. O futuro está na conscientização e no uso crítico, equilibrando a tecnologia com avaliações tradicionais em papel e caneta”, completa.

Uso Declarado

No Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, autonomia e responsabilidade também são princípios centrais. A escola formou uma comissão de estudantes para discutir como incorporar a tecnologia na rotina escolar, decidindo, por exemplo, não proibir o uso do ChatGPT, desde que seja declarado.

“Não podemos entregar um trabalho produzido com IA e afirmar que é 100% nosso. Não é uma competição entre homem e máquina, é uma colaboração”, destaca Verônica Cannatá, coordenadora de tecnologia.

Ela explica que a IA pode ser usada como ponto de partida, mas o uso inconsciente deve ser evitado. “O aluno não pode simplesmente fazer uma redação com a ajuda do ChatGPT e o professor não perceber. No vestibular, não será possível usar a ferramenta para escrever a redação.”

Iniciação Científica

No Colégio Dante Alighieri, a IA é parte do currículo desde 2018, como uma disciplina eletiva. Em 2023, tornou-se um dos eixos do currículo de letramento digital e é explorada em projetos de pré-iniciação científica. Clara Szylewicz Chabelmann, de 15 anos, e Felipe Cruz Monteiro de Barros, de 17 anos, são exemplos de alunos que aplicam a tecnologia em seus projetos. Clara e a colega Carolina Agostini Rocchiccioli estão desenvolvendo uma pulseira para detectar sinais de sonambulismo, enquanto Felipe criou um chat box para responder perguntas sobre os conteúdos estudados na escola.

Apesar do entusiasmo com as potencialidades da tecnologia, Clara enfatiza a importância da ética no uso da IA. “A IA pode sacudir o sistema, mas é fundamental usar com responsabilidade.”

Felipe concorda, dizendo que a IA é um recurso valioso, mas não substitui o trabalho humano. “A IA ajuda a alcançar nossos objetivos, mas não pode competir com um trabalho bem feito.”

Formação Humana e Desigualdades

Verônica Cannatá defende que as discussões sobre o uso da IA devem se expandir para políticas públicas, não se limitando às escolas privadas. “Ignorar a IA é deixar os alunos em um analfabetismo tecnológico. A IA está revolucionando o mundo, não apenas a escola.”

Paulo Blikstein, professor da Universidade de Columbia e diretor do Transformative Learning Technologies Lab (TLTL), alerta que a IA pode ampliar a desigualdade entre alunos de diferentes contextos socioeconômicos. “A tecnologia se adapta aos sistemas existentes. Se o sistema educacional não incentiva o pensamento crítico, a IA pode apenas reforçar o status quo e criar usuários passivos.”

Blikstein também destaca a necessidade de investir na formação de professores, em vez de apenas em equipamentos tecnológicos. “A tecnologia sozinha não muda a educação; são as pessoas que a utilizam que fazem a diferença.”

Fonte: Estadão

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