Geral
De oito dias para oito meses: o que mudará no corpo dos astronautas que terão que ficar no espaço até o ano que vem
A chegada dos astronautas Butch Wilmore, de 61 anos, e Sunita Williams, de 58, à Estação Espacial Internacional (EEI) foi marcada por celebrações e entusiasmo. Eles se juntaram a sete astronautas que já estavam na estação para um período inicial de oito dias. No entanto, a missão, que parecia relativamente simples, enfrentou complicações inesperadas, mudando drasticamente os planos.
O problema surgiu quando a nave espacial Starliner, da Boeing, usada pelos astronautas, apresentou defeito. Sem possibilidade de reparo, a decisão foi que a nave retornará à Terra vazia. Assim, Butch e Sunita terão que permanecer na EEI até fevereiro do próximo ano, quando voltarão à Terra a bordo de uma nave da SpaceX. O que começou como uma festa acabou se transformando em desafios e incertezas.
A médica Thais Russomano, especialista em medicina espacial, comentou que a permanência prolongada no espaço não é apenas uma questão de celebração, mas pode ter impactos negativos significativos. “Os astronautas enfrentarão não só o impacto emocional de uma mudança inesperada em sua missão, mas também uma exposição prolongada à microgravidade e à radiação cósmica”, explicou.
Chris Hadfield, ex-comandante da EEI e entrevistado pelo Fantástico, relatou que o corpo humano reage de forma peculiar ao ambiente de microgravidade. “Nos primeiros dias, os astronautas costumam sentir muita ânsia de vômito devido à perda de noção de direção. O sistema de equilíbrio não consegue processar as informações visuais corretamente. Após cerca de três semanas, o corpo se adapta e entende a nova realidade”, detalhou.
Hadfield também abordou os aspectos psicológicos da experiência. “A incerteza e a falta de segurança são constantes, independentemente da duração da missão. Além disso, a estação é frequentemente atingida por meteoritos, e é possível ouvir esses impactos. Por vezes, um meteorito pode até causar danos na fuselagem. A questão psicológica é significativa: como é viver longe de casa, por um período indefinido, em um ambiente perigoso?”, explicou.
Thais Russomano ressaltou que os danos à saúde dos astronautas não são apenas psicológicos. Estudos mostram que alguns astronautas apresentaram aumento da pressão intracraniana e problemas de visão, possivelmente relacionados a essa pressão. Alterações na circulação sanguínea venosa também foram observadas, com um caso de coágulo em uma veia do pescoço. Felizmente, anticoagulantes foram enviados para a EEI e o problema foi resolvido, mas isso destaca o risco de tromboses em missões prolongadas, como a de Butch e Sunita.
A boa notícia é que, de acordo com os estudos, o corpo tende a se recuperar e retornar ao normal após o retorno à Terra. As mudanças no corpo de Butch e Sunita serão certamente analisadas. Por enquanto, os dois continuam animados com a missão.
Fonte: G1