Geral
RS abre 53,3 mil vagas com carteira assinada no 1º semestre
O Rio Grande do Sul mais contratou do que demitiu no primeiro semestre de 2023 no âmbito do mercado de trabalho formal. O Estado acumula abertura de 53.315 vagas com carteira assinada na primeira metade do ano. O resultado ocorre mesmo após o fechamento de 211 postos em junho — segundo mês com resultado negativo na geração de emprego no Estado. Os dados fazem parte do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho no início da tarde desta quinta-feira (27).
O saldo do Caged mostra o resultado entre contratações e demissões. No primeiro semestre, o Estado anotou 763.996 admissões e 710.681 desligamentos. O Caged reúne apenas dados do trabalho formal e as informações são atualizadas mensalmente. Isso pode provocar ajustes nos montantes divulgados em meses anteriores e, consequentemente, nos acumulados de cada período.
Em movimento nos mesmos moldes da média nacional, a abertura de vagas no acumulado do ano no Estado também ocorre em ritmo mais lento na comparação com o mesmo período de 2022, quando foram criados 75.365 postos.
No Estado, o setor de serviços concentra mais da metade dos postos gerados no ano, com a abertura de 30.655 vagas. Na sequência, aparecem indústria (20.557) e comércio (1.900). A agropecuária é o único dos grandes ramos pesquisados com resultado negativo, fechando 487 vagas no ano.
Junho no vermelho
Em junho, o resultado negativo do Estado foi puxado pela indústria, que registrou o fechamento de 3.305 postos, e agropecuária (-1.196). Serviços fizeram contraponto a esse movimento abrindo 5.632 vagas.
Na comparação com os outros Estados, o Rio Grande do Sul ficou na segunda colocação entre os piores saldos em junho, atrás apenas da Paraíba (-223 postos)
Geral
Menina afegã conquista divórcio após anos de luta, mas Talebã invalida decisão
A jovem Bibi Nazdana encontra abrigo sob uma árvore, entre duas estradas movimentadas, enquanto segura com firmeza uma pilha de documentos contra o peito. Para ela, esses papéis representam sua liberdade: são os documentos do divórcio que conquistou após uma árdua batalha judicial de dois anos, libertando-se da vida de noiva infantil. Contudo, essa vitória foi anulada por um tribunal do Talebã, que, com sua interpretação rígida da sharia (lei islâmica), silenciou as mulheres no sistema jurídico do Afeganistão.
Nazdana não está sozinha nessa luta. Seu divórcio é um dos milhares de casos que foram revertidos desde que o Talebã reassumiu o controle do país, há três anos. Sua tão arduamente conquistada liberdade durou menos de dez dias após a chegada do grupo à capital, Cabul.
Hekmatullah, o homem ao qual Nazdana foi prometida quando tinha apenas sete anos, imediatamente recorreu aos tribunais para contestar a decisão que a jovem havia lutado tanto para conseguir. Ele se apresentou pela primeira vez quando Nazdana tinha 15 anos, e o pai dela concordou com o que é conhecido como “casamento de reparação”, uma tentativa de transformar um inimigo da família em um aliado.
Nazdana, decidida, buscou o tribunal, então sob o governo afegão apoiado pelos Estados Unidos, pedindo a separação e afirmando que não poderia se casar com o fazendeiro. Após dois anos de luta, o tribunal decidiu a seu favor, parabenizando-a e afirmando: “Agora você está separada e livre para se casar com quem quiser.”
Entretanto, quando Hekmatullah recorreu da decisão em 2021, Nazdana foi informada de que não poderia se defender pessoalmente. “O Talebã me disse para não voltar, pois era contra a sharia. Disseram que meu irmão deveria me representar”, conta Nazdana. Seu irmão, Shams, de 28 anos, explica: “Eles disseram que, se não cumpríssemos, entregariam minha irmã a ele [Hekmatullah] à força.”
Hekmatullah, agora um membro do Talebã, ganhou o caso. Shams tentou convencer o tribunal em sua província natal, Uruzgan, de que a vida de sua irmã estava em risco, mas suas palavras foram ignoradas. Sem opções, os irmãos decidiram fugir.
Revisão dos processos pelo Talebã
Quando o Talebã voltou ao poder, há três anos, prometeram acabar com a corrupção do passado e estabelecer “justiça” sob a sharia. Desde então, afirmam ter analisado cerca de 355 mil casos, a maioria de natureza criminal. Estima-se que 40% desses casos envolviam disputas de terras e 30% questões familiares, como o divórcio de Nazdana.
A decisão sobre o divórcio de Nazdana foi revelada após a BBC obter acesso exclusivo aos escritórios da Suprema Corte em Cabul. Abdulwahid Haqani, porta-voz da Suprema Corte do Afeganistão, confirmou a anulação do divórcio, alegando que a decisão anterior “foi contra a sharia e as regras do casamento”, já que Hekmatullah “não estava presente”.
Além de reabrir casos anteriormente resolvidos, o Talebã removeu todos os juízes, homens e mulheres, substituindo-os por pessoas que compartilham suas visões radicais. As mulheres foram consideradas ineptas para atuar no sistema judicial. “As mulheres não são qualificadas ou capazes de julgar, pois, segundo os princípios da sharia, o trabalho judicial requer pessoas com alta inteligência”, afirma Abdulrahim Rashid, diretor de Relações Exteriores e Comunicações da Suprema Corte do Talebã.
Essa perda de espaço é sentida profundamente pelas mulheres que atuavam no sistema. Fawzia Amini, ex-juíza da Suprema Corte que fugiu após o retorno do Talebã, destaca que é difícil imaginar melhorias para os direitos das mulheres sem a presença de juízas. “Desempenhamos um papel importante. A Lei de Eliminação da Violência contra a Mulher, de 2009, foi uma de nossas conquistas”, diz.
Amini critica também a decisão do Talebã de reverter veredictos anteriores, como o de Nazdana. “Se uma mulher se divorcia do marido e os documentos do tribunal estão disponíveis como prova, isso é definitivo. Veredictos legais não podem mudar só porque o regime mudou”, enfatiza.
O Talebã, no entanto, argumenta que os antigos governantes do Afeganistão não eram suficientemente islâmicos e fundamentam suas decisões na lei religiosa Hanafi Fiqh, que remonta ao século VIII, mas que foi adaptada “para atender às necessidades atuais”. “Os tribunais anteriores tomavam decisões com base em um código penal e civil. Agora, todas as decisões são fundamentadas na sharia”, afirma Rashid, orgulhosamente mostrando a pilha de casos revisados.
Fawzia Amini se mostra cética em relação aos planos do Talebã para o sistema jurídico afegão. “Tenho uma pergunta para o Talebã: os pais deles se casaram com base nessas leis ou com base nas leis que seus filhos vão escrever?”, questiona.
Para Nazdana, essas questões não trazem conforto. Sob a árvore, entre duas estradas em um país vizinho não identificado, ela permanece há um ano segurando seus papéis de divórcio e esperando ajuda. Agora com apenas 20 anos, ela desabafa: “Bati em muitas portas pedindo ajuda, inclusive nas Nações Unidas, mas ninguém ouviu minha voz. Onde está o apoio? Eu não mereço liberdade como mulher?”
A BBC não conseguiu contatar Hekmatullah para comentários.
Fonte: BCC News
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Crianças podem ser psicopatas?
A resposta direta à pergunta do título desta reportagem é negativa: de acordo com os critérios atuais da psiquiatria, crianças e adolescentes não são classificados como psicopatas.
Conforme será explicado ao longo do texto, essa questão está ligada a diversos aspectos éticos, estigmas históricos e debates entre especialistas. Esses fatores resultaram em uma nova classificação e terminologia para um problema que pode ser observado já nos primeiros anos de vida.
Estamos nos referindo ao “transtorno de conduta”, que nos manuais de psiquiatria é descrito como um conjunto de “comportamentos severos que infringem os direitos de outros ou as normas sociais”.
Felizmente, existem formas de diagnosticar essa condição em jovens, e alguns tratamentos eficazes, que envolvem toda a família, podem auxiliar na modificação de comportamentos inadequados e até mesmo prevenir problemas mais sérios na vida futura do indivíduo afetado.
A seguir, vamos explorar quais características de personalidade podem indicar um transtorno de conduta desde os primeiros anos de vida, com base em evidências científicas e no consenso entre especialistas.
O que é psicopatia
Para começar a entender o tema, é importante esclarecer o que realmente significa ser psicopata.
“A psicopatia é um diagnóstico clínico, definido por uma combinação de fatores, como a demonstração reduzida de emoções, ausência de remorso ou arrependimento, um certo charme, além de impulsividade e comportamentos antissociais recorrentes”, resume a psicóloga Arielle Baskin-Sommers, professora associada da Universidade Yale, nos Estados Unidos.
“Esses atributos juntos elevam o risco de o indivíduo infringir normas, regras e leis”, complementa a especialista.
Na prática, uma das ferramentas mais utilizadas para diagnosticar essa condição é a Lista Revisada de Psicopatia de Hare, desenvolvida pelo psicólogo canadense Robert Hare na década de 1970.
Esse instrumento consiste em 20 itens que ajudam a determinar se uma pessoa possui traços de psicopatia. A lista inclui características como:
- Eloquência e charme superficial;
- Senso grandioso de autoestima;
- Necessidade de estímulos e tendência ao tédio;
- Mentira patológica;
- Engano e manipulação;
- Falta de remorso ou culpa;
- Afeto superficial;
- Insensibilidade e falta de empatia;
- Estilo de vida parasitário;
- Controle comportamental precário;
- Comportamento sexual promíscuo;
- Problemas comportamentais iniciais;
- Falta de metas realistas e de longo prazo;
- Impulsividade;
- Irresponsabilidade;
- Falha em aceitar a responsabilidade por suas próprias ações;
- Muitos relacionamentos superficiais;
- Delinquência juvenil;
- Revogação de liberdade condicional;
- Versatilidade criminal.
Um profissional qualificado pode avaliar um paciente com base em cada um desses 20 domínios. Quanto mais elevado o resultado final da avaliação, maior a probabilidade de a pessoa ser, de fato, psicopata.
É importante ressaltar que a psicopatia não está necessariamente ligada à violência física ou à prática de crimes.
“Em termos probabilísticos, alguém com psicopatia apresenta um risco maior de ser violento. Contudo, existem psicopatas que não se envolvem em comportamentos violentos”, diferencia Baskin-Sommers.
“Por outro lado, a maioria das pessoas que comete atos violentos não é psicopata. Estima-se que essa condição afete cerca de 1% da população geral, e mesmo entre os encarcerados, a prevalência de psicopatia gira em torno de 25%”, afirma ela.
“Isso significa que, embora a psicopatia seja mais comum entre os encarcerados, ainda assim não é a maioria nesse grupo.”
O ‘sumiço’ da psicopatia
Entretanto, há um problema na definição de psicopatia, especialmente no momento do diagnóstico clínico.
Os mais recentes consensos na área, como a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria e considerado um dos principais guias dessa especialidade, aboliram o termo “psicopatia”.
Atualmente, o diagnóstico que mais se assemelha a esse quadro é o chamado “transtorno de personalidade antissocial”.
Segundo a associação americana, pessoas com esse transtorno “tendem a desconsiderar ou violar repetidamente os direitos dos outros, mentir, enganar ou manipular, agir impulsivamente ou ignorar a segurança de si mesmas ou de outros”.
“Elas também podem ter problemas com substâncias, violar a lei e normalmente não demonstram remorso ou culpa”, complementa a entidade.
Uma mudança semelhante ocorreu na versão mais recente da Classificação Internacional de Doenças (CID), da Organização Mundial da Saúde, que aborda a psicopatia de forma mais indireta, sob a categoria de “transtornos de personalidade”.
Especialistas consultados pela BBC News Brasil afirmam que essas mudanças de terminologia deslocam o foco do diagnóstico para o comportamento antissocial do paciente, deixando de lado traços de personalidade mais difíceis de medir objetivamente, como a insensibilidade.
Essa alteração gerou críticas e intensos debates entre especialistas. A psicóloga Abigail Marsh, professora de neurociência da Universidade Georgetown, nos EUA, menciona o estigma como um dos fatores que motivaram essa mudança.
“Certas condições são tão estigmatizadas que, independentemente do nome que recebem, continuarão a enfrentar barreiras e problemas”, observa a especialista, que é cofundadora da Psychopathy Is, uma das únicas organizações que promovem estudos e campanhas de conscientização sobre psicopatia.
“Em vez de mudarmos os nomes a todo momento, seria mais eficaz educar a população sobre a natureza desses transtornos, a fim de desfazer mitos e medos que persistem na sociedade”, opina.
Portanto, existem dois cenários: do ponto de vista “oficial” e burocrático, no momento do diagnóstico e liberação de tratamentos por planos de saúde, os médicos precisam seguir os critérios que descrevem o transtorno de personalidade antissocial, conforme estipulado pelo DSM ou pelo CID.
Entretanto, em alguns casos, caso o paciente apresente traços específicos, é possível realizar uma avaliação clínica mais aprofundada e, com o auxílio de ferramentas como a lista de Hare, investigar a possibilidade de psicopatia (embora esse termo não conste mais nos manuais).
Os métodos de diagnóstico específicos para a psicopatia também são amplamente utilizados em pesquisas científicas, que buscam compreender melhor as origens genéticas, neurológicas e ambientais desse distúrbio.
O que é transtorno de conduta
Como mencionado anteriormente, o transtorno de personalidade antissocial só pode ser diagnosticado em pacientes maiores de 18 anos.
Contudo, isso não significa que sinais de psicopatia não possam ser observados antes, durante a infância e adolescência.
“É possível identificar alguns indícios, como a falta de manifestações emocionais, em crianças muito jovens, aos cinco ou seis anos”, afirma o pesquisador James Blair, professor de Psiquiatria Translacional da Universidade de Copenhague, na Dinamarca.
“Naturalmente, quanto mais jovem for o indivíduo, mais difícil é diferenciar as causas e os transtornos”, complementa.
O pesquisador Luke Hyde, professor de psicologia da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, ressalta que suspeitas de um distúrbio psiquiátrico em crianças e adolescentes devem ser analisadas com cautela — e com o auxílio de um profissional especializado na área.
“Diversos estudos mostram que muitos jovens que apresentam características compatíveis com a psicopatia aos 15 anos não atendem mais a esses critérios quando têm 21 ou 22 anos”, observa.
“Por isso, devemos ter cuidado, pois um diagnóstico assim pode estigmatizar esses indivíduos.”
Ele ressalta que existe o transtorno de conduta, que pode ser identificado em pessoas com menos de 18 anos.
“Esse distúrbio está mais relacionado a questões como violação de regras ou agressões repetidas. O DSM-5 explica que esses pacientes apresentam emoções pró-sociais limitadas, evidenciadas por uma certa falta de sensibilidade”, resume.
Mas há sinais práticos que podem ser observados?
“Algumas crianças [com transtorno de conduta] são muito destemidas, apresentam baixos níveis de medo em situações ameaçadoras ou continuam a realizar ações pelas quais são repreendidas ou punidas”, exemplifica Marsh.
A especialista enfatiza que, nesse contexto, a punição não precisa ser drástica ou violenta. Inclui conversas ou intervenções simples que pais e responsáveis fazem rotineiramente para corrigir comportamentos inadequados ou arriscados — como, por exemplo, pedir que a criança não coloque o dedo no buraco da tomada novamente.
“Alguns indivíduos nascem com níveis muito baixos de sensibilidade à punição. Assim, não temem as possíveis reprimendas e não ajustam seu comportamento”, destaca Marsh.
“Com o tempo, a falta de resposta pode frustrar os pais, resultando em um ciclo de comportamentos cada vez piores, com um aumento da insensibilidade e impulsividade, que pode culminar em psicopatia mais tarde em algumas pessoas”, raciocina a especialista.
Marsh sugere que os pais precisam conhecer, ao menos, os comportamentos considerados adequados para cada faixa etária.
“Há casos em que a criança age conforme esperado para sua idade, mas em outras situações é possível notar sinais de transtorno”, aponta.
Entre os principais pontos de atenção, a psicóloga destaca a insensibilidade à punição, a falta de medo diante de ameaças e uma certa frieza no relacionamento com os outros.
“À medida que a criança cresce, ela pode, por exemplo, não se importar com a dor de outra pessoa”, explica Marsh. Esse tipo de comportamento, que se manifesta na infância ou na adolescência, pode servir como um alerta.
Contudo, a especialista ressalta que nem todo comportamento inadequado está relacionado ao transtorno de conduta.
“Problemas de conduta são comuns entre jovens. Portanto, o essencial é contar com uma avaliação profissional adequada, caso surjam comportamentos preocupantes”, recomenda.
Tratamento e prevenção
Mas o que pode ser feito quando os sintomas são identificados?
Os tratamentos mais eficazes incluem intervenções que envolvem os pais ou responsáveis e são aplicados em conjunto com o desenvolvimento de habilidades sociais.
É comum que profissionais utilizem terapias baseadas na observação e em outros métodos para estimular o comportamento positivo.
“Se não formos capazes de oferecer soluções que ajudem a criança a se comportar de maneira adequada, essas intervenções tendem a falhar”, adverte Baskin-Sommers.
Além disso, ela ressalta a importância de envolver a família no processo. “Muitas vezes, os comportamentos de uma criança são uma resposta ao ambiente em que ela vive e à dinâmica familiar”, explica.
Os especialistas alertam que a presença de violência ou disfunção familiar em casa pode aumentar a probabilidade de problemas de comportamento nas crianças.
“Por outro lado, a prática de habilidades sociais que envolvem a interação, o diálogo e o apoio também é muito útil para promover a modificação de comportamentos inadequados”, orienta Marsh.
Assim, por meio de intervenções que incentivem a troca e o vínculo, é possível desenvolver a empatia e o respeito em jovens que enfrentam dificuldades emocionais.
É fundamental compreender que crianças e adolescentes não podem ser classificados como psicopatas, mas podem apresentar traços e comportamentos que exigem atenção e intervenção.
“Precisamos nos lembrar de que muitos jovens passam por dificuldades e precisam de apoio para evitar que esses comportamentos se tornem mais graves ao longo do tempo”, conclui Baskin-Sommers.
Fonte: BCC News
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O vírus transmitido por mosquitos que se espalha pelos EUA e pela Europa sem cura ou vacina
Anthony Fauci teve uma carreira notável como um dos principais pesquisadores do HIV em todo o mundo e, mais recentemente, tornou-se a figura central do programa americano de combate à pandemia de covid-19. No entanto, o vírus que o hospitalizou recentemente é bem diferente.
Em agosto, aos 83 anos, Fauci começou a apresentar sintomas como febre, calafrios e fadiga, diagnosticando-se com febre do Nilo Ocidental, uma doença causada por um vírus transmitido por mosquitos. Descoberto em Uganda nos anos 1930, Fauci não contraiu o vírus na África, mas sim em seu quintal nos Estados Unidos, o que demonstra a crescente incidência desses casos.
De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), cerca de 2 mil americanos contraem a febre do Nilo Ocidental anualmente, resultando em 1,2 mil doenças neurológicas potencialmente fatais e mais de 120 mortes. “Todos estão em risco”, afirma Kristy Murray, professora de pediatria na Universidade Emory, em Atlanta, que estuda o vírus há quase 20 anos. “Uma simples picada de mosquito pode resultar em infecção”, explica, ressaltando que, embora a forma grave da doença afete principalmente os mais velhos, jovens também podem adoecer.
O primeiro surto conhecido da febre do Nilo Ocidental no hemisfério ocidental ocorreu em Nova York no final de agosto de 1999, quando dois casos de encefalite viral foram relatados. Com o tempo, a epidemia afetou cerca de 8,2 mil pessoas na cidade. A origem do vírus, que circula na África, Oriente Médio e sul da Europa, permanece um mistério. Sabe-se, no entanto, que as aves são os principais vetores, com os mosquitos se infectando ao picar aves contaminadas e, subsequentemente, transmitindo o vírus aos humanos.
Desde aquele primeiro surto, foram registrados mais de 59 mil casos da febre do Nilo Ocidental nos EUA, resultando em cerca de 2,9 mil mortes, embora as estimativas sugerem que o número real de infecções possa ultrapassar três milhões. A preocupação com surtos mais frequentes está crescendo, em grande parte devido às mudanças climáticas que favorecem o desenvolvimento dos mosquitos e a incubação do vírus.
Na Espanha, o vírus é endêmico, e um surto sem precedentes em 2020 gerou um aumento prolongado na sua circulação. Embora a maioria das infecções seja assintomática, uma em cada cinco pessoas apresenta sintomas leves, enquanto casos graves podem levar a deficiências permanentes. Aproximadamente uma em cada 150 pessoas pode ter o vírus afetando o cérebro e o sistema nervoso central, resultando em inflamações que podem ser fatais e causar lesões cerebrais.
Grupos como os imunocomprometidos, idosos e portadores de doenças como diabetes ou hipertensão são especialmente vulneráveis. “Com a hipertensão, o aumento da pressão no cérebro facilita a passagem do vírus pela barreira hematoencefálica”, explica Murray.
Após anos acompanhando pacientes com casos graves da doença, Murray observa que a inflamação resultante pode causar atrofia cerebral. Imagens cerebrais frequentemente revelam padrões semelhantes aos de pacientes com lesões traumáticas. “Cerca de 10% dos casos graves resultam em morte e 70 a 80% apresentam consequências neurológicas de longo prazo”, diz ela. Os sobreviventes muitas vezes enfrentam depressão e mudanças de personalidade.
Apesar desses riscos, atualmente não existem vacinas ou tratamentos específicos para a febre do Nilo Ocidental. “Ela se tornou uma doença negligenciada”, afirma Murray. “Recebo frequentemente contatos de pacientes recém-diagnosticados perguntando o que podem fazer, e a resposta é que não há nada. O tratamento é apenas de suporte, e é doloroso ter que dizer isso.”
Dificuldades técnicas e financeiras
A ironia da situação é que existem vacinas seguras e eficazes contra o vírus da febre do Nilo Ocidental para cavalos desde há 20 anos. Entre 2004 e 2016, foram realizados nove testes clínicos de vacinas para uso humano, mas nenhuma chegou à fase 3, que é crucial para a aprovação. O último teste, financiado pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, não passou da fase 1, que visa confirmar a segurança da intervenção.
A diretora médica da Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores dos CDC, Carolyn Gould, menciona que a natureza esporádica dos surtos tem sido um grande obstáculo. “Alguns testes foram realizados em períodos sem muitos casos”, observa Murray. Em 2012, houve um surto no Texas, com mais de 2 mil casos, sendo 800 deles graves. Se os testes tivessem ocorrido durante esses surtos, teriam obtido participantes suficientes.
Um estudo de viabilidade econômica realizado em 2006 concluiu que um programa de vacinação contra o vírus provavelmente não reduziria os gastos do sistema de saúde. Gould acredita que o alto custo de desenvolvimento da vacina e os benefícios financeiros incertos têm dificultado o avanço das pesquisas.
Recentemente, surgiram sugestões para vacinas direcionadas a pessoas acima de 60 anos, que estão em maior risco. Gould também defende a criação de programas em regiões dos EUA com maior incidência de mosquitos vetores do vírus. A crescente evidência sobre os efeitos de longo prazo das lesões neurológicas causadas pela doença pode incentivar o desenvolvimento de vacinas. Estimativas recentes indicam que os custos totais para tratar pacientes hospitalizados com a febre do Nilo Ocidental chegam a US$ 56 milhões, e os custos a longo prazo podem ultrapassar US$ 700 mil por paciente.
“Estudos mostram que pode ser viável desenvolver vacinas para grupos de alto risco em regiões específicas”, diz Gould. “Para os fabricantes, é importante considerar o grande número de pessoas que podem sofrer consequências graves ao calcular as previsões de vendas.”
Paul Tambyah, presidente da Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas, critica a falta de soluções e a visão limitada sobre os testes necessários. “Todos acham que devemos fazer testes em massa nos EUA, mas é difícil para uma doença que aparece de forma imprevisível por apenas dois meses e meio por ano”, explica. Ele sugere um grande teste internacional com múltiplos locais, não apenas nos EUA, mas também em regiões africanas onde o vírus é endêmico, o que pode reunir evidências mais robustas.
Embora essa iniciativa exija milhões de dólares em financiamento, Tambyah acredita que parcerias entre setores público e privado podem reduzir os riscos financeiros. “Existem mecanismos para tornar isso possível. É preciso apenas vontade política.”
A busca por tratamentos
Além das vacinas, é urgente desenvolver tratamentos eficazes para os casos graves da febre do Nilo Ocidental. Murray menciona que foram criados dois medicamentos baseados em anticorpos monoclonais, mas não avançaram além dos testes em roedores. Os desenvolvedores enfrentaram obstáculos semelhantes aos das vacinas ao tentar planejar ensaios clínicos adequados.
A prioridade é encontrar um medicamento que não apenas elimine o vírus, mas também alivie a inflamação no cérebro, que causa muitas complicações neurológicas. Murray suspeita que, em alguns casos, o vírus persista nas células nervosas, dificultando o ataque. “Ele atravessa a barreira hematoencefálica e se instala no cérebro, onde provoca inflamação e lesões. O problema é que muitos antivirais existentes não conseguem alcançar o cérebro e, assim, não demonstram eficácia.”
No entanto, pode haver alternativas. Tambyah sugere que lições da pandemia de covid-19 podem ser aplicadas aqui. Um dos tratamentos mais eficazes foi um esteroide barato chamado dexametasona, cujos benefícios foram identificados em um teste britânico que avaliou várias opções.
Como consultor sênior em doenças infecciosas, Tambyah tratou de muitos pacientes com inflamação cerebral e acredita que encontrar o esteroide adequado pode ser a chave para a recuperação. “O vírus do Nilo Ocidental é um flavivírus e atualmente não há antivirais aprovados para esses vírus. Acredito que os esteroides poderão ser o futuro.”
Entretanto, é necessário mais dados para identificar o tratamento ideal contra o vírus do Nilo Ocidental, e Tambyah sugere um estudo semelhante ao Teste de Recuperação britânico. “Podemos recrutar pacientes com encefalite causada pelo vírus e testar diversas intervenções, incluindo esteroides e anticorpos monoclonais.”
“Se houver vontade de agir e financiamento suficiente dos governos dos países afetados, isso pode se tornar realidade”, conclui.
Murray e Tambyah esperam que a recente atenção dada à febre do Nilo Ocidental, devido à doença de Fauci, possa motivar as autoridades a alocar mais recursos para esta doença negligenciada. “Esse vírus veio para ficar e continuaremos a sofrer surtos”, alerta Murray. “Se alguém como Fauci, que tem uma posição respeitada, puder falar sobre isso, poderá ajudar a impulsionar o financiamento para estudar o vírus e apoiar a pesquisa de vacinas e tratamentos.”
“Já se passaram 25 anos desde que a febre do Nilo Ocidental apareceu nos EUA e ainda não temos soluções.”
Fonte: BCC News
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