O primeiro – e provavelmente único – debate entre Joseph Biden e Donald Trump, pré-candidatos democrata e republicano às eleições presidenciais americanas, aconteceu na quinta-feira (27). Analistas políticos dos Estados Unidos avaliam que Trump foi o vencedor do encontro, mostrando-se mais articulado e contundente diante de um presidente hesitante.

Como é comum nas eleições americanas, a disputa marcada para novembro deste ano promete ser acirrada. As pesquisas indicam uma ligeira vantagem para Trump, embora o cenário possa mudar significativamente. A idade avançada de Biden, de 81 anos, e seu desempenho ruim no debate podem levar o Partido Democrata a considerar a troca de candidato, reiniciando a competição.

No entanto, a questão principal é: qual presidente seria melhor para a economia brasileira? A Forbes consultou vários especialistas para responder essa pergunta.

Joseph Biden e Luiz Inácio Lula da Silva têm diversos pontos em comum, como suas ligações com o sindicalismo. Lula construiu sua carreira política no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, enquanto Biden, assim como outras lideranças democratas, tem conexões com sindicatos, o que facilita a diplomacia entre os dois países.

Essa relação já trouxe vantagens ao Brasil. O país é o maior comprador de diesel russo, com importações de US$ 4,5 bilhões (R$ 27,5 bilhões) em 2023, e é também o terceiro maior importador de hidrocarbonetos, como petróleo bruto e derivados, segundo Felipe Martins Passero, sócio da InvestSmartXP. “Isso seria um problema em uma administração Trump, mas a gestão Biden tem ignorado essa questão”, diz Passero. “Trump tem uma posição política mais distante de Lula, o que pode gerar ruídos nas relações bilaterais.”

Uma vitória de Trump também poderia influenciar as eleições no Brasil. “Uma onda de direita está se formando na Europa. Se a maior economia do mundo seguir essa direção, certamente terá influência nas nossas próximas eleições”, afirma André Colares, CEO da Smart House Investments.

O ponto mais crítico para o Brasil é o protecionismo da economia americana. Tradicionalmente, presidentes republicanos eram menos protecionistas e mais abertos a relações econômicas com a América Latina, considerada uma região estratégica. Já os democratas tendem a ser mais defensivos em relação ao mercado americano, o maior do mundo.

No entanto, a eleição de Donald Trump mudou essa dinâmica. Grande parte de sua campanha se baseou no conceito de “America First” (“Estados Unidos em primeiro lugar”), com aumento de tarifas para preservar empregos americanos, especialmente os menos qualificados. “A reeleição de Biden não traria mudanças significativas na relação comercial com o Brasil. Já uma vitória de Trump resultaria em maior protecionismo”, diz Colares.

Mesmo assim, essa equação é complexa. Tanto Trump quanto um Biden reeleito serão pressionados pelos eleitores a endurecer as relações comerciais com a China. As barreiras protecionistas aumentariam para todos, mas as mudanças mais severas afetariam a China, potencialmente abrindo espaço para exportações brasileiras e latino-americanas, diz Passero, da InvestSmartXP. “Uma política de ‘nearshoring’ mais agressiva poderia beneficiar o Brasil, que possui energia mais barata e em maior quantidade que o México.”

Os Estados Unidos enfrentam uma inflação elevada com as medidas tradicionais: juros altos. Um eventual segundo governo Trump provavelmente seguiria as diretrizes do primeiro: redução de impostos para empresas, aumento das tarifas protecionistas e mais restrições à imigração. Isso pode ajudar no equilíbrio das contas públicas, mas também pode gerar pressão inflacionária, mantendo os juros elevados e o dólar valorizado.

Segundo Passero, a imigração também influencia a inflação. “Menos imigração pode levar a uma inflação de mão de obra maior, com juros mais altos, o que pode ser prejudicial ao Brasil”, diz ele. “No entanto, Trump sempre defendeu menos burocracia e impostos, o que pode ser deflacionário no curto prazo.”

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Em 2022, o comércio bilateral entre os dois países atingiu US$ 121 bilhões. As principais importações do Brasil são combustíveis refinados, enquanto o item de exportação mais importante é petróleo bruto. A falta de capacidade de refino no Brasil obriga o país a exportar petróleo e importar gasolina. Outras importações relevantes incluem minério de ferro, café e aviões, graças à Embraer.

Trump traria uma perspectiva mais protecionista, com aumento de tarifas. As perspectivas são mais positivas com uma possível reeleição de Biden. No entanto, há o risco de uma postura menos agressiva em relação à China abrir espaço para exportações chinesas de itens que competem com o Brasil, avalia Pedro Afonso Gomes, presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon/SP).

Fonte: Forbes Brasil