Política
Padronizar decisões sobre o uso de inteligência artificial na eleição brasileira vira desafio para a Justiça
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recentemente regulamentou o uso de Inteligência Artificial (IA) nas eleições através de uma resolução aprovada este ano. No entanto, a subjetividade do tema, a falta de precedentes e as dificuldades técnicas para identificar conteúdos gerados por IA representam desafios significativos para o primeiro pleito com uso massivo dessa tecnologia.
Para garantir uniformidade nas decisões, a Justiça Eleitoral está incentivando que juízes de todo o país consultem um repositório da Corte que reúne todas as decisões relacionadas ao uso de IA no contexto eleitoral. Esta ferramenta, lançada em 2019, está sendo aperfeiçoada pelo TSE para consolidar uma jurisprudência sobre inteligência artificial.
O ministro Floriano de Azevedo Marques explica que o banco de dados da Corte eleitoral já reúne decisões sobre o enfrentamento à desinformação desde 2022. “Acessando o repositório, diante de um caso na sua zona eleitoral, o juiz pode verificar o estado da arte da jurisprudência do Superior para ver se o caso se enquadra, evitando assim decisões muito díspares”, relata o magistrado.
Contudo, o tema é complexo e algumas decisões já estão sendo questionadas por especialistas. Um caso emblemático envolve a deputada Tabata Amaral (SP), pré-candidata do PSB à Prefeitura de São Paulo. A parlamentar publicou um vídeo onde o rosto do prefeito Ricardo Nunes (MDB), seu adversário, é inserido no corpo do ator Ryan Gosling no filme Barbie. O vídeo sugere que o prefeito é desconhecido na cidade através de um trocadilho com o pronome “quem” e o personagem “Ken”.
Na decisão, o juiz eleitoral concluiu que não houve uso de IA na modalidade “deepfake” com “fins ilícitos” e que não houve “exposição vexatória” de Nunes que pudesse “macular suas honras objetiva ou subjetiva”. “Até porque a montagem é feita sobre um personagem bem aceito mundialmente, que não é um vilão ou figura de caráter duvidoso”, acrescentou o magistrado, ressaltando que não houve menção à eleição de 2024. A defesa de Nunes recorreu, mas a decisão foi mantida.
Fernando Neisser, professor de direito eleitoral da Fundação Getúlio Vargas (FGV), entende que o caso de Tabata se encaixa no artigo 9-C da resolução 23.732/2024 do TSE, que proíbe o uso de conteúdos fabricados ou manipulados para difundir fatos notoriamente inverídicos ou descontextualizados com potencial para causar danos ao equilíbrio do pleito ou à integridade do processo eleitoral. “O vídeo, em tese, configura uma prática ilegal, pois ela usa IA para atacar o adversário”, afirma Neisser. “A preocupação do TSE é com o uso da ferramenta, que tem o potencial de ser uma desinformação anabolizada.”
Entre as principais preocupações da Justiça Eleitoral para este ano estão justamente as deepfakes. O ministro Marques já classificou a prática como uma espécie de “fake news 2.0”. A tecnologia não só permite a produção rápida de informações falsas, como também trouxe um salto na qualidade dessas produções, tornando praticamente impossível ao olho humano detectar a manipulação realizada por um programa de computador.
Fonte: Jornal o Sul
Geral
Aliados de Bolsonaro temem que generais decidam fazer delação
Geral
Não se faz golpe com um general da reserva e meia dúzia de oficiais”, declara Bolsonaro sobre o indiciamento
Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira (25) que nunca discutiu a possibilidade de aplicar um golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele disse ter estudado “todas as medidas possíveis dentro das quatro linhas da Constituição”. O ex-presidente concedeu uma entrevista coletiva ao retornar a Brasília para se reunir com seus advogados e discutir os próximos passos após seu indiciamento pela Polícia Federal (PF) por tentativa de golpe de Estado para se manter no poder. Foi a primeira vez que falou publicamente desde o indiciamento.
— Como o Temer disse hoje, uma obviedade: golpe de Estado precisa da participação de todas as Forças Armadas, senão não é golpe de Estado. Ninguém dá golpe de Estado em um domingo, em Brasília, com pessoas com bíblias debaixo do braço e bandeiras do Brasil na mão, nem usando estilingue, bolinha de gude e muito menos batom. Não tinha um comandante… Vamos tirar isso da cabeça. Ninguém vai dar golpe com um general da reserva e meia dúzia de oficiais. Da minha parte, nunca houve discussão de golpe — disse Bolsonaro.
— Se alguém viesse falar sobre golpe comigo, eu diria: “Tá, tudo bem, e o dia seguinte? Como o mundo reagiria?”. Agora, todas as medidas possíveis dentro das quatro linhas, dentro da Constituição, eu estudei — afirmou Bolsonaro.
O ex-presidente ressaltou que a palavra “golpe” nunca esteve em seu vocabulário.
— Não faço e jamais faria algo fora das quatro linhas. Para mim, é possível resolver os problemas do Brasil dentro da Constituição — disse ele.
No documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última quinta-feira (21), a PF indiciou Bolsonaro e outras 36 pessoas, incluindo os generais Augusto Heleno (ex-chefe do GSI), Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil e vice de Bolsonaro na chapa derrotada em 2022), Paulo Sérgio Nogueira (ex-comandante do Exército) e Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira (ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército), o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, e o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres — pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
A PF aponta Bolsonaro como o “líder” da organização criminosa, cujo objetivo era mantê-lo no poder.
O relatório também indica que Bolsonaro tinha conhecimento de um plano para assassinar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, em 2022. Além de mensagens de celular, vídeos, gravações e depoimentos da delação premiada do tenente-coronel Cid, há uma minuta de um decreto golpista que, de acordo com a PF, foi redigida e ajustada por Bolsonaro.
Fonte: GZH
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