O presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja implementar um “arcabouço digital” para reforçar a comunicação do governo na segunda metade de seu mandato, que começa em janeiro de 2025. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) será o primeiro alvo de mudanças, com Lula buscando fortalecer sua narrativa e conter o avanço da extrema-direita nas redes sociais.

A reformulação pode incluir a substituição do ministro Paulo Pimenta, embora não se limite apenas a isso. Críticas à comunicação do governo já vinham sendo feitas por Lula antes de sua recente internação para tratar de um hematoma intracraniano. Ele considera que falta uma linguagem unificada, o que resulta em ministros e parlamentares do PT divulgando mensagens desconexas.

Entretanto, ainda não há consenso sobre a direção a ser tomada. A primeira-dama, Rosângela da Silva, conhecida como Janja, tem influência significativa sobre a Secom, especialmente na área de Estratégias e Redes, onde atua de forma independente. Um exemplo disso foi a campanha realizada em janeiro, no aniversário do ataque de 8 de janeiro, quando Janja idealizou um vídeo em que ministros destacaram a palavra “Democracia”. Pimenta só soube do projeto depois que ele foi divulgado.

O desafio da comunicação política
No PT, cresce a pressão para que Lula assuma maior protagonismo na disputa de narrativas, especialmente contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. A vitória de Donald Trump nos EUA reforçou a urgência de uma estratégia robusta na comunicação. Entre as propostas estão a realização de mais pronunciamentos em rede nacional para expor a gravidade dos atos de 8 de janeiro de 2023 e desmistificar as ações bolsonaristas.

Na saída do hospital, Lula comentou a prisão do general Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice de Bolsonaro, criticando o governo anterior:
“Este País teve gente que fez 10% do que eles fizeram e foi morta na cadeia. Não podemos aceitar o desrespeito à democracia e à Constituição. O Brasil não pode tolerar militares de alta patente tramando a morte do presidente, do vice e de um juiz do TSE.” Lula comparou o governo Bolsonaro a uma “praga de gafanhotos”.

Estratégias futuras e possíveis mudanças
Para 2025, Lula pretende definir uma abordagem mais consistente para as redes digitais. Ele deve se reunir com o publicitário Sidônio Palmeira, que trabalhou em sua campanha de 2022 e é cotado para assumir a Secom ou atuar como assessor especial. Sidônio defende uma comunicação que evite polarizações extremas e é responsável por ações estratégicas, como o slogan “União e Reconstrução” e o pronunciamento de Fernando Haddad sobre o pacote fiscal.

Lula tem insistido que o governo precisa reagir à hegemonia da extrema-direita nas redes sociais:
“O PT e o governo têm culpa. Não podemos permitir que a extrema-direita domine as redes enquanto nossas ações positivas ficam em segundo plano.”

Falhas na comunicação ficaram evidentes durante sua recente cirurgia. A falta de informações levou a especulações, já que a imprensa só foi informada após o hospital emitir um boletim oficial.

Há quem defenda o retorno do cargo de porta-voz presidencial para unificar as mensagens e evitar ruídos como o ocorrido em fevereiro, quando Lula comparou o ataque de Israel à Faixa de Gaza ao Holocausto. No entanto, Lula resiste à ideia, preferindo ele mesmo desempenhar essa função.

Cenário político interno
Apesar das críticas, Lula não pretende abandonar Pimenta, que pode ser deslocado para outro cargo na reforma ministerial prevista para 2025. O ministro, que planeja disputar o Senado pelo Rio Grande do Sul em 2026, diz compartilhar a preocupação do presidente com a comunicação.

A Secom, entretanto, enfrenta dificuldades. Uma licitação para um contrato de comunicação digital no valor de R$ 197,7 milhões foi cancelada após suspeitas de irregularidades. A disputa jurídica segue em andamento.

Para o deputado Jilmar Tatto (PT-SP), é necessário maior coesão no discurso:
“É preciso que todos falem a mesma linguagem. Hoje isso não está acontecendo.”

Por outro lado, o deputado Rogério Correia (PT-MG) defende que os problemas vão além da comunicação:
“Quando as coisas não estão bem, não há comunicação que resolva. A comunicação não pode ser responsável pelo conteúdo.”

Correia também criticou setores do PT que buscam evitar a polarização:
“Não podemos ir para o centro. O povo precisa saber o que está acontecendo. Não vamos deixar o golpe ser normalizado.”

Fonte: Estadão