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Moradora de povoado enrola corpo da irmã em lona e leva até hospital para conseguir atestado de óbito

Uma família do assentamento Irmã Adelaide, em Miracema do Tocantins, ficou com o corpo de uma mulher em casa por mais de 20 horas sem conseguir velar ou enterrar. Deusirene Ferreira de Aquino, de 54 anos, morreu de causas naturais na varanda da casa onde vivia. A irmã dela teve que enrolar o corpo em uma lona, colocar na carroceria de carro e fazer uma peregrinação até conseguir atendimento para emitir o atestado de óbito.
Essa história teve início no sábado (16) na zona rural de Miracema, na região central do estado. Deusirene começou a passar mal durante a manhã. Fraca e com diarreia ela não conseguia nem levantar da rede.
A irmã dela, Raimunda Ferreira Aquino, disse que chamou o Samu por volta de 8h30 da manhã. Os socorristas deveriam sair de Palmas e o tempo de espera seria de aproximadamente 30 minutos.
Aproximadamente duas horas depois a ambulância ainda não tinha chegado e Deusirene morreu na rede onde estava deitada. “Às vezes se eles tivessem chegado a tempo minha irmã não tinha ido a óbito”, disse a lavradora.
Só que dor da perda não foi à única angústia vivida naquele dia e o sofrimento estava apenas começando. Ao ligar para funerária, a irmã descobriu que precisaria do atestado de óbito para que o corpo pudesse ser removido.
Só que a unidade de saúde do povoado não tem atendimento no fim de semana e os moradores dizem que a ambulância do assentamento está quebrada desde o ano passado. Ainda com o corpo deitado na rede, dona Raimunda foi orientada por policiais a procurar uma delegacia. Ela seguiu para Barrolândia, cidade mais próxima, mas deu de cara com o portão fechado. “Lá não tem delegacia aberta no fim de semana nem em feriado.” Até ao Instituto Médico Legal eles recorreram, mas sem resultado porque a morte não tinha indícios de crime. A lavradora retornou para casa e, desesperada ao ver a irmã morta sem atendimento, decidiu ela mesma levar o corpo até o hospital de Miracema do Tocantins, sede do povoado.
“Eu peguei, com rede e tudo, pedi dois homens que tinha aqui. Eles pegaram [o corpo], eu abri a lona e eles colocaram com rede e tudo. Estava com as perninhas dobradas, bem encolhida porque os nervos tinham endurecido. A gente enrolou em duas lonas”, disse.
No hospital a lavradora finalmente foi atendida, conseguiu a documentação e retornou ao assentamento com o corpo da irmã enrolado na lona e na carroceria do carro.
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