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Mank: retrato fiel de uma rede de intrigas

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Herman J. Mankiewicz (1987-1953) sempre foi considerado o homem por trás de Cidadão Kane. Em Mank, de David Fincher, produção da Netflix, ele toma a frente da cena. Orson Welles, diretor de Cidadão Kane, filme considerado por boa parte da crítica como o maior de todos os tempos, faz apenas algumas breves aparições. Aqui, Mank é rei.

Verdade que um rei caído, ou pelo menos em alto estágio de decadência. Vamos vê-lo, logo no começo, transportado (literalmente) para um rancho em Victorville, Califórnia, com a perna quebrada. No isolamento, em companhia de uma enfermeira, uma datilógrafa e um caminhão-pipa de destilados, Mank, maravilhosamente interpretado por Gary Oldman, deverá escrever o roteiro para um futuro filme de Orson Welles. Que virá a ser, todos sabem, nada mais nada menos que Cidadão Kane.

Há um detalhe prévio e interessante a considerar. O roteiro inicial de Mank foi escrito pelo pai de David Fincher, Frank Fincher, nos anos 1990. O próprio Frank queria filmá-lo, com Kevin Spacey no papel principal. No entanto, o estúdio por ele contatado desistiu ao descobrir que seria um filme em preto e branco. O projeto não saiu e Frank Fincher morreu em 2003.

Agora, o filho resolveu retomá-lo, e com liberdade, já que a Netflix, depois do sucesso de Roma, de Alfonso Cuarón, parece não ter qualquer problema com produções em preto e branco. David Fincher, como Welles faria com o roteiro de Mankiewicz, mexeu no texto original de seu pai, talvez para torná-lo mais atual.

Digo “talvez” porque se Mank é de fato um mergulho na indústria cinematográfica e também na política dos anos 1930, diz respeito também do nosso tempo. É como uma fala que vem do passado para o presente, através da campanha eleitoral pelo governo da Califórnia, um dos panos de fundo desse filme complexo e labiríntico.

Concorriam para governador o republicano Frank Merrien e o democrata Upton Sinclair, escritor e homem de ideias avançadas, tido como esquerdista. Sinclair era o favorito dos liberais da Califórnia, mas uma besta fera para o establishment, isto é os chefões de estúdios, milionários da indústria, grã-finos e magnatas da imprensa. Entre estes últimos, o big boss William Randolph Hearst, que viria a ser modelo do personagem Charles Foster Kane no filme famoso de Welles. Vejam como as coisas vão se amarrando.

Em Mank, o escritor com a perna engessada em seu rancho, evoca o passado em sucessivos flashbacks. Em vários deles, ressurgem essas figuras, o miliardário Hearst (Charles Dance), o dono da Metro, Louis B. Meyer (Anliss Howard), o produtor Irving Thalberg (Ferdinand Kingslay). E também a jovem amante de Heast, Marion Davies (Amanda Seyfried), que seria retratada de modo caricatural em Cidadão Kane e de certa forma reabilitada em Mank

Na memória de Mankiewicz, esses figurões patrocinam um verdadeiro complô para evitar a vitória de Sinclair. Inclusive produzindo e divulgando filmes de contrapropaganda. Usam atores e atrizes desconhecidos (os “extras”), para retratar os eleitores de Merrien como patriotas e os de Sinclair como idiotas ou aliados dos comunistas. Em resumo, uma fábrica de fake news, décadas antes da invenção dessa expressão e das redes sociais que as veiculam, mas que conecta aquele mundo com o nosso. Um fato trágico associado à fabricação dessa propaganda política enganosa será decisiva na trama de Mank. Dará ao seu protagonista o impulso decisivo para agir de maneira enérgica na defesa do que julga ser seu direito.

E o que será esse direito reivindicado por Mankiewicz? Simplesmente o de ser creditado como roteirista de Cidadão Kane. Ser reconhecido por aquilo que escreveu. Ora, ele deveria permanecer anônimo, pois havia assinado contrato com Welles abdicando da autoria. Mas o texto que vai escrevendo no rancho, em boa parte baseado nas memórias do convívio com gente como William Hearst, Irving Thalberg, Marion Davies, Louis B. Meyer, lhe parece de tal forma pessoal que nada mais justo lhe parece que colocar sua assinatura na capa.

Também é bom lembrar que esta é outra polêmica do mundo do cinema. Em 1971, a famosa crítica de da revista New Yorker, Pauline Kael, escreveu um longo ensaio intitulado Criando Kane (Raising Kane). No texto (edição brasileira da Record), ela sustenta, com todas as letras, que o roteirista Herman J. Mankiewicz seria o verdadeiro autor de Cidadão Kane.

Como se poderia esperar, o texto de Kael despertou reações diversas e nem sempre positivas. Se por um lado valoriza a figura do escritor, em geral minimizado pela figura hipertrofiada do diretor, por outro ignora que é o cineasta quem conduz o processo de filmagem e imprime o desenho final da obra. Pelo menos quando tem liberdade de trabalho, como era o caso de Welles em seu primeiro filme. Cineastas como Peter Bogdanovich saíram em defesa de Welles e um escritor como Robert L. Carringer realizou uma grande pesquisa para desmontar a tese de Kael, em The Making of Citizen Kane (aqui editado como Cidadão Kane – O Making Of, pela Civilização Brasileira).

Welles e Mankiewicz foram premiados com o Oscar de melhor roteiro em 1942, o único troféu de Cidadão Kane, que recebera nove indicações naquele ano. Nenhum dos dois foi receber a estatueta.

Mank é, portanto, o bastidor dessa intrincada história da indústria do cinema, um mundo de egos hiper desenvolvidos, com suas alianças e trapaças, rivalidades e mesquinharias, grandezas e baixezas. Tudo em torno de um filme mítico, saído da cabeça de um diretor carismático que nunca mais teria liberdade para trabalhar da mesma maneira nos estúdios. E de um roteirista de gênio, inventor de uma palavra-talismã do cinema moderno – Rosebud – e que morreria onze anos depois, de complicações decorrentes do alcoolismo.

Bastidor do mundo fascinante e ambíguo do cinema, mas também da política da época e de qualquer tempo, com seus interesses econômicos e golpes baixos, práticas usuais que conhecemos todos os dias pela leitura de jornais. Ambos – cinema e política – andam muito juntos, mais do que gostaríamos de saber, sobretudo no milionário sistema de estúdios norte-americano da época, em que a briga por espaço no mercado era também uma disputa de poder. Uma guerra, na qual, se sabe, vale tudo.

Mank tem esse fascínio e essa complexidade. Fala da escritura do roteiro de Cidadão Kane e, no próprio processo, coloca-se como um espelho antecipado desse filme famoso. Por isso, teria de ser, como Kane, moldado numa estrutura em flashback, com idas e voltas no tempo. O escritor, preso à cama em seu rancho no deserto, evoca suas experiências anteriores para dar vida aos personagens e à ficção que está criando. A arte fala da vida e a recria, e também a reinterpreta. Mank tinha de ser em preto e branco, como Kane. E precisava ter, no papel principal, um ator tão fantástico como Gary Oldman, que não se deixasse ofuscar pela lembrança de Orson Welles como Charles Foster Kane.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Climatempo prevê que onda de calor persistirá até o fim do verão, 20 de março

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A temperatura está começando a aumentar em grande parte do Brasil nesta semana. Uma nova onda de calor já está elevando os termômetros de 3°C a 5°C acima da média, um fenômeno que deve persistir até o final do verão, em 20 de março, de acordo com a Climatempo. Nos próximos dias, até 15 de março, os locais mais afetados serão o oeste do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e noroeste de São Paulo.

Outras regiões como a outra parte de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, oeste da Bahia, Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Pará, Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima também sentirão o impacto da onda de calor nesta semana.

Entre 16 e 20 de março, o mapa da onda de calor se espalha ainda mais. A área mais afetada será o Sudeste, atingindo todos os estados da região, além de Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.

A cidade de São Paulo já emitiu um alerta para o calor nesta quarta-feira. Mas, o que é uma onda de calor e como ela se forma? Maria Clara Sassaki, porta-voz da Climatempo, explica que uma onda de calor ocorre quando a temperatura fica pelo menos cinco graus acima da média, por mais de cinco dias consecutivos.

Sassaki esclarece que a temperatura está diretamente relacionada à umidade: “quando o ar está úmido, a temperatura diminui, e quando o ar está seco, o calor aumenta.” Assim, a onda de calor é resultado de uma massa de ar seco originada de bloqueios atmosféricos, mais comuns no inverno, mas que também podem ocorrer no verão.

“Um bloqueio atmosférico é um padrão de ventos que impede o avanço de frentes frias do Sul para o Sudeste. Como as frentes frias transportam umidade, durante um bloqueio, essa umidade não chega ao continente, o que faz com que o ar seco prevaleça e o calor se intensifique”, explica Sassaki.

Ela acrescenta que o El Niño, um fenômeno que aquece as temperaturas da superfície do oceano no Pacífico oriental e central, potencializa esses eventos severos, como as ondas de calor, ao aquecer a atmosfera. No entanto, as mudanças climáticas também desempenham um papel significativo nessas alterações de padrão.

Março marca a transição do verão para o outono no hemisfério sul, com o equinócio de outono. Durante esse fenômeno, os raios solares incidem de forma mais direta sobre a Linha do Equador devido a uma inclinação no eixo da Terra em relação ao sol. Esse equinócio ocorre em 20 de março em 2024, marcando a chegada do outono e a gradual diminuição da temperatura.

Fonte: CNN Brasil

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Filme “Barbie” Domina Nominados no Critics Choice Awards de 2024

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Foram anunciados nesta quarta-feira (13) os indicados nas categorias de cinema para o “Critics Choice Awards” de 2024. O filme “Barbie”, dirigido por Greta Gerwig, destaca-se liderando com impressionantes 18 indicações, estabelecendo um novo recorde ao longo das 29 edições do prêmio.

“Barbie” concorre em diversas categorias, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz (Margot Robbie), Melhor Ator Coadjuvante (Ryan Gosling), Melhor Atriz Coadjuvante (America Ferrera) e em três categorias de Melhor Música Original (“Dance the Night,” “I’m Just Ken” e “What Was I Made For”).

Outros filmes como “Oppenheimer”, dirigido por Christopher Nolan, e “Pobres Criaturas”, dirigido por Yorgos Lanthimos, também se destacaram com 13 indicações cada, incluindo a categoria de Melhor Filme.

É importante notar que a lista de indicados nas categorias de séries de TV e streaming já havia sido divulgada em 5 de dezembro. A cerimônia de premiação, que celebrará os maiores nomes da TV, está marcada para 14 de janeiro de 2024 e será transmitida pelo canal de televisão TNT e pela plataforma de streaming HBO Max.

Fonte: CNN Brasil

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Cinema / Séries

Morre aos 61 anos, o ator André Braugher, o eterno capitão Holt de Brooklyn Nine-Nine

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Divulgação/NBC
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Imprensa norte-americana afirmou que ator estava doente. Vencedor de dois prêmios ‘Emmy’, Braugher teve passagens em obras de sucesso no cinema e na televisão.

 

O ator Andre Braugher, conhecido por interpretar o capitão Raymond Holt na série “Brooklyn Nine-Nine”, morreu aos 61 anos. A informação foi confirmada pela assessora do ator, nesta terça-feira (12).

Braugher morreu na segunda-feira (11), após uma “breve doença”. Mais detalhes não foram fornecidos pela assessoria do ator.

Vencedor de dois prêmios Emmy — o “Oscar da TV” — Braugher nasceu em Chicago, nos Estados Unidos, em 1962. Ele estreou no cinema em 1989, com o filme “Tempo de Glória”, ao lado de Denzel Washington e Morgan Freeman.

Já na década de 1990, esteve entre as estrelas da série “Homicídio”, a qual que rendeu a ele um Emmy de melhor ator em série dramática, em 1998.

Ainda em 1998, interpretou “Cassiel” em “Cidade dos Anjos”. Nos anos seguintes, fez novas participações no cinema, em “Posseidon” (2006) e “Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado” (2007).

Em 2006, venceu seu segundo Emmy, de melhor ator em minissérie, pela participação em “Thief”.

Como capitão Holt, em “Brooklyn Nine-Nine”, ganhou ainda mais projeção global. Ele interpretou o policial-chefe dos detetives da série de comédia entre 2013 e 2021. O personagem, visto como uma figura paterna na delegacia, era assumidamente gay.

“Senti que era uma oportunidade de fazer algo totalmente diferente do resto da minha carreira”, disse Braugher em entrevista à Associated Press, em 2019.

O papel em “Brooklyn Nine-Nine” rendeu a ele quatro indicações ao Emmy de melhor ator coadjuvante em série de comédia (2014, 2015, 2016 e 2020). Durante toda a carreira, foram 11 indicações ao prêmio.

Colegas de ‘B99’ fazem homenagens

O ator Terry Crews, que interpretou Terry Jeffords na série, publicou uma homenagem para o colega em uma rede social.

“Você nos deixou muito cedo. Você me ensinou muito. Serei eternamente grato pela experiência de conhecer você. Obrigado por sua sabedoria, seus conselhos, sua gentileza e sua amizade”, escreveu.

A atriz Chelsea Peretti, que interpretou Gina Linetti, publicou um texto em uma rede social afirmando se sentir sortuda por ter vivido uma “jornada” ao lado de Braugher.

“Te amo. Sentirei falta dos seus tons doces. Sempre sortuda por ter feito essa jornada com você, sentado ao seu lado em um ringue. Você foi tão engraçado comigo e o simbolizando que águas paradas são profundas. Sempre apreciarei nossas conversas, muitas vezes comigo pendurada na sua porta, impedindo sua saída, e a oportunidade insana de ser sua parceira. É estranho que eu também esteja de luto pelo que o capitão Holt significou para Gina? Eu realmente esperava e sabia que veria você novamente. Odeio que eu não vou”

Já Joe Lo Truglio, que deu vida a Charles Boyle, escreveu que Braugher era um ator poderoso, comprometido e apaixonado pelas coisas.

“Tantas histórias maravilhosas serão contadas sobre Andre mas ,por enquanto, todo o meu amor vai para sua esposa, Ami, e seus três filhos, que ele amava muito e voltava todo fim de semana do show para estar com eles. Todos nós sabemos o quão poderoso ele era como ator, mas mais que isso: Andre conhecia muito bem seu papel mais importante e estava profundamente orgulhoso dele. Ele falava frequentemente sobre seus filhos e sabia o quão sortudo era por ter Ami. Sou grato a eles por nos permitirem compartilhar oito anos com ele. Ele era comprometido e apaixonado pelas coisas que amava. E aquela voz. Ele deu potência aos diálogos. O que você provavelmente não sabe é que Andre também cantava, e fazia isso muitas vezes na hora do almoço, cantando vocais ousados em seu camarim ao som de qualquer música nova que encontrasse. No começo foi estranho porque bem… era Andre Braugher cantando no volume máximo atrás de portas fechadas…mas então, muito rapidamente, fez todo o sentido do mundo, porque o homem estava tão cheio de música e é por isso que o mundo começou a perceber. Já sinto muita falta dele. Que honra trabalhar com um homem que sabia exatamente da importância das coisas. Sinto-me abençoado e agradecido. Sinto sua falta, capitão Holt. Com amor, Costeleta de Porco”Dirk Blocker, que interpretou Hitchcock

“Extremamente inteligente, extraordinariamente gentil, solidário, generoso e possuía um talento profundo e extraordinário, e tinha ainda mais a oferecer. Estou devastado. Eu o amo. Os nove anos em que pude trabalhar com ele e apenas estar em sua presença foram realmente uma bênção. Minhas mais sinceras condolências vão para sua família”
Marc Evan Jackson, que interpretou Kevin, marido de Ray (Andre Braugher)
“Ó, capitão, meu capitão”

O perfil oficial da série no Instagram publicou uma foto com a legenda: “Sempre nosso capitão. Te amamos, Andre”.

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Fonte: G1

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