Carolina Arruda, que sofre de neuralgia do trigêmeo e vive com a “pior dor do mundo” há 11 anos, terá implantados neuroestimuladores na medula espinhal e no Gânglio de Gasser. O objetivo é minimizar as dores que ela sente. Segundo o Dr. Carlos Marcelo de Barros, diretor clínico da Santa Casa e presidente da Sociedade Brasileira para os Estudos da Dor (SBED), esses dispositivos podem “estimular” o nervo, impedindo a transmissão de estímulos dolorosos.

Os neuroestimuladores serão aplicados na medula espinhal, que conduz sinais ao sistema nervoso, e no Gânglio de Gasser, um grupo de neurônios associados ao nervo trigêmeo, responsável por transmitir sensações da face ao cérebro. “Espera-se que sejam bastante efetivos no tratamento da dor dela. Casos como o dela são raros, mas as descrições de casos similares foram muito positivas”, afirmou o Dr. Barros.

Como a dor de Carolina é bilateral, a equipe médica realizará um bloqueio teste para confirmar a localização exata da dor, injetando uma pequena quantidade de anestésico local próximo ao nervo. Dependendo da resposta ao teste, a equipe decidirá entre uma nova abordagem no gânglio esquerdo ou a neuromodulação do Gânglio de Gasser, pesando os riscos e benefícios de cada opção.

“Todo procedimento médico, especialmente no sistema nervoso central, tem riscos. O maior risco é o procedimento não funcionar, mas também podem ocorrer infecções, rejeições e eventos tromboembólicos”, alertou o Dr. Barros.

Carolina ficará acordada e sem sedativos durante o procedimento, o que deve facilitar a adaptação aos neuroestimuladores. “Após o implante, há um período de ajuste, mas dentro de uma semana já saberemos o resultado deste primeiro passo”, completou o médico. O implante está previsto para o dia 27 de julho, e até lá, Carolina continuará em tratamento adjuvante na Clínica da Dor.

Tratamento na Clínica da Dor

Internada no dia 8 de julho na Santa Casa de Alfenas, Carolina iniciou um tratamento gradual na Clínica da Dor, especializada em dores crônicas. O Dr. Carlos Marcelo de Barros enfatiza que casos como o de Carolina devem ser tratados em centros especializados para aumentar a chance de alívio da dor, mesmo que parcial.

No dia 10 de julho, Carolina foi encaminhada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para receber uma medicação que exige internamento nesse tipo de leito. Após ficar sedada por cinco dias, ela acordou na segunda-feira (15) e voltou ao quarto da Santa Casa, relatando um alívio inédito das dores em mais de uma década.

Natural de São Lourenço, no Sul de Minas, e residente em Bambuí, no Centro-Oeste, Carolina é estudante de medicina veterinária, casada há três anos e mãe de uma menina de 10 anos. As dores começaram aos 16 anos, durante a gravidez e recuperação de dengue. O diagnóstico foi feito há 7 anos, e desde então, ela passou por vários tratamentos, como descompressão microvascular, rizotomia por balão e duas neurólises por fenolização, sem alívio significativo.

A dor intensa e o desgaste levaram Carolina a considerar o suicídio assistido na Suíça, iniciando uma campanha na internet para arrecadar fundos.

O que é a neuralgia do trigêmeo?

Conhecida como a “doença do suicídio”, a neuralgia do trigêmeo é comparada a choques elétricos e facadas. O nervo trigêmeo, um dos maiores do corpo humano, se divide em três ramos: o ramo oftálmico, o ramo maxilar e o ramo mandibular. Ele é sensitivo e controla as sensações faciais, como toque e dor.

A doença normalmente afeta um lado do rosto, mas em casos raros, pode atingir ambos os lados, como no caso de Carolina. A dor é desencadeada por gatilhos cotidianos como falar, mastigar, tocar o rosto ou sentir a brisa do vento. Essa dor é incapacitante, dificultando a realização de atividades diárias simples.

Fonte: G1