Pesquisadores anunciaram a recuperação do DNA mais antigo já conhecido de Homo sapiens, extraído de fragmentos ósseos encontrados em uma caverna sob um castelo medieval em Ranis, na Alemanha. O estudo, publicado na revista Nature nesta quinta-feira (12), revela detalhes da interação entre humanos modernos e Neandertais há cerca de 45.000 anos.

Os 13 fragmentos analisados pertenciam a seis indivíduos, incluindo mãe, filha e parentes distantes. Seus genomas apresentavam traços de ancestralidade Neandertal, indicando que essa interação ocorreu cerca de 1.500 anos antes, ou 80 gerações. Apesar de os cruzamentos não necessariamente terem acontecido em Ranis, os achados reforçam o impacto genético dessa convivência.

Revelações sobre a interação entre espécies

Desde o sequenciamento do primeiro genoma Neandertal em 2010, sabe-se que humanos modernos se cruzaram com Neandertais. No entanto, o momento, a frequência e os locais dessas interações ainda são temas de pesquisa.

Um estudo paralelo, publicado na revista Science, analisou genomas de 59 humanos antigos e 275 pessoas vivas hoje, corroborando um período intenso de fluxo gênico entre as espécies. Segundo o estudo, essa troca genética ocorreu entre 50.500 e 43.500 anos atrás, com um auge há cerca de 47.000 anos.

“Esses grupos eram muito mais semelhantes do que diferentes”, destacou Priya Moorjani, coautora do estudo da Science. “Eles se misturaram por um longo período e viveram lado a lado.”

Impactos genéticos da ancestralidade Neandertal

Os Neandertais legaram de 1% a 3% do genoma humano moderno. Algumas variantes genéticas herdadas foram vantajosas, como as ligadas ao sistema imunológico, ajudando os humanos a se adaptarem a climas frios durante a última era glacial. Outras variantes, porém, causaram problemas, como defeitos genéticos e infertilidade masculina, especialmente associadas ao cromossomo X.

As análises também identificaram “desertos arcaicos” no genoma humano, regiões onde os genes Neandertais são ausentes. Esses desertos provavelmente se formaram rapidamente, em menos de 100 gerações, devido aos impactos negativos dessas variantes.

O grupo de Ranis: primeiros Homo sapiens na Europa

Os indivíduos de Ranis, que apresentavam pele, olhos e cabelos escuros, eram parte de uma população pioneira de Homo sapiens na Europa. Apesar de sua adaptação ao ambiente local, essa linhagem acabou se extinguindo, sem deixar descendentes diretos.

A pesquisa também conectou geneticamente os habitantes de Ranis a uma mulher de 45.000 anos encontrada em Zlatý kůň, na República Tcheca, evidenciando a dispersão inicial dos Homo sapiens pelo continente.

Extinções e lições sobre a história humana

Embora o Homo sapiens tenha sobrevivido e prosperado, outras linhagens humanas, como os Neandertais, desapareceram há cerca de 40.000 anos. Johannes Krause, coautor do estudo da Nature, acredita que essas extinções mostram que a evolução humana não foi linear.

“A história humana nem sempre é uma história de sucesso”, concluiu Krause, diretor do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva.

Os estudos combinados ajudam a refinar a compreensão sobre a migração humana, a convivência com outras espécies e a complexa evolução genética que moldou nossa espécie.

Fonte: CNN