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Cinco anos após filho ser agredido por PMs e sofrer abusos em estação da Supervia, mãe luta na Justiça para que estado pague indenização
“A gente luta com muito sacrifício para criar os nossos filhos e vem um agente do estado, que deveria proteger, e destrói a nossa vida. Há 5 anos eu luto diariamente para impedir que o meu filho tire a vida e por justiça. Há 5 anos eu luto para que o Estado pague o que esses homens fizeram com o meu filho. E espero que esse pesadelo acabe logo”.
A fala emocionada é da mãe de um dos jovens que foi vítima de agressões e abusos sexuais dentro da estação de trem da Supervia no Maracanã, na Zona Norte do Rio, em 2019. Dois adolescentes, um de 17 e outro de 18 anos, foram abordados por seguranças do trem, espancados, obrigados a fazer sexo oral no outro e filmados. O vídeo foi divulgado na internet.
Dois policiais militares foram condenados pelo crime, e dois seguranças da concessionária, absolvidos, mas acabaram demitidos. Na época, os policiais faziam um serviço extra para a empresa.
Cinco anos após o crime, o filho da mulher, que hoje tem 23 anos, foi diagnosticado com depressão, não sai de casa e toma oito comprimidos por dia. A Justiça definiu que ele é incapaz de cuidar da própria vida e deu a curatela provisória para sua mãe, que está desempregada e tem 48 anos.
Segundo a mulher, após o fato, o filho tentou tirar a própria vida quatro vezes e precisou ser internado em diversas outras ocasiões para tratar os surtos psicóticos. Atualmente, ele é acompanhado por especialistas em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPs).
De acordo com a mãe do jovem, os surtos começaram depois da humilhação que o filho passou, aos 18 anos. Desde que foi vítima da violência, o rapaz apresenta sintomas de esquizofrenia.
Segundo o psiquiatra Victor Viegas Vieira, médico residente em psiquiatria da UFRJ, a doença provoca mudanças no comportamento do paciente, e um dos sintomas é o isolamento social.
“Existe grande variação na forma da apresentação do transtorno em cada indivíduo. Quanto mais precoce for o acometimento pelo transtorno, maior o risco de pior prognóstico do quadro. Ou seja, indivíduos acometidos em idades mais jovens podem apresentar maior dificuldade de funcionamento social e de trabalho”, contou o médico.
Ao g1, o especialista explicou que um paciente diagnosticado com esquizofrenia “pode ficar fechado em si mesmo, com o olhar vago, demonstrando certa indiferença em relação ao ambiente”.
Ainda de acordo com o médico, o transtorno de esquizofrenia pode ser devastador para um paciente e para a sua família.
A mãe do jovem diz que esse é o comportamento habitual do filho, e que a rotina da família não é mais a mesma desde o episódio.
Indenização por danos morais
Enquanto isso, a família do jovem briga na Justiça para que o estado pague uma indenização por danos morais.
Em 2023, a Justiça do RJ determinou que o governo do estado pagasse R$ 300 mil à família. No entanto, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) recorreu contra a decisão.
No mês passado, a Justiça baixou a indenização para R$ 60 mil. A família não concordou com o valor e recorreu.
“Não é pelo dinheiro, é para dar um mínimo de conforto para o meu filho… [É] para levar ele no médico, para comprar os medicamentos, porque às vezes não tem remédio no posto. Não quero depender do SUS”, diz a mãe.
“Eu trabalhava e sustentava a casa. Pagava as minhas contas, comprava tudo para o meu filho. Hoje, vivemos com R$ 600 do Bolsa Família e o vale alimentação do meu irmão que não chega a R$ 300”.
As dificuldades, segundo ela, viraram rotina.
“O meu filho virou uma criança. Ele gosta de comer biscoitos, tomar um achocolatado e às vezes não tem. Aqui é uma casa humilde, mas é aquilo que eu posso proporcionar de conforto. Ele merecia algo melhor”.
Mãe foi diagnosticada com depressão
Por segurança e para preservar a família, o g1 omitiu em qual cidade eles vivem. Na última semana, a reportagem esteve na residência: uma casa simples, sem reboco e com chão de cimento.
A mãe do jovem, que foi diagnosticada com depressão, conta que precisa tomar três tipos de remédios e desabafa ao lembrar o que sonhou para o futuro do filho mais novo.
“Como toda mãe, a gente sonha coisas boas para os nossos filhos, né? Terminar os estudos, ser alguém na vida… Na época, eu estava trabalhando em um banco e pagava um curso para ele. Mas deu tudo errado, não foi nada do jeito que eu pensei.”
“Eu deito na cama e fico o tempo todo pensando: ‘Por que com o meu filho? Por que isso aconteceu com a gente?’ O meu filho não sai de casa, o meu filho não tem amigos. Ele só fica deitado”, conta.
Aos prantos, ela diz que não aguenta mais essa situação, mas resiste pelo filho.
“Tem mãe que está sofrendo porque perdeu seu filho e não conseguiu enterrar. Eu sofro porque o meu filho está desse jeito. Me dói muito saber que foi o estado, que foi o estado que fez isso com o meu filho. Ele está aí, está passando pelo que está passando”.
Questionada se perdoaria os envolvidos no crime, ela diz ser improvável.
“Difícil perdoar. Mesmo sendo mãe, tendo o coração aberto. Se fosse ao contrário, será que eles perdoariam?”
Humilhação gravada
Durante a sessão de espancamento, os rapazes – então com 17 e 18 anos – foram obrigados a praticar sexo oral um no outro. Não bastasse a brutalidade e a humilhação, o crime foi filmado e divulgado nas redes sociais.
Os amigos admitiram que eram usuários de drogas e que iriam comprar maconha na comunidade da Mangueira, mas disseram que no momento na abordagem não estavam com drogas. Eles também não estavam com nenhuma identificação.
Pouco tempo após o episódio, a Supervia demitiu os seguranças Rafael Souza Marcolino e Carlos Renato da Silva Alamino, que filmaram o crime, fez um acordo extrajudicial e pagou uma indenização para as famílias dos jovens – para evitar que caso fosse levado à Justiça.
“Eles pagaram um valor, que eu usei para comprar essa casinha e comprar remédios para ele, mas esse dinheiro não existe mais”, conta a mãe do rapaz.
Em 2022, o soldado Wagner Castro da Silva, que à época trabalhava na 1ª UPP (Fazendinha) do 16º BPM (Olaria), e o cabo Levine Venute da Silva Júnior, então lotado no Batalhão de Choque, foram condenados. Wagner foi sentenciado a 22 anos de prisão, e Levine, a 18 anos de prisão. Ambos em regime fechado.
Os dois funcionários da Supervia foram absolvidos.
Desde então, os advogados de Wagner e Levine tentam fazer que eles sejam soltos. Também em 2022, o cabo Levine e o soldado Wagner foram expulsos da corporação.
No relatório final do Inquérito Policial Militar (IPM), da Corregedoria da PM, que embasou as expulsões, o órgão afirmou “que as imputações irrogadas pelo órgão da acusação em relação a estes acusados são robustas, contundentes e indicam, de maneira inequívoca, terem sido os acusados autores dos bárbaros injustos culpáveis crimes de roubo, tortura, estupro e divulgação de cenas de estupro”.
Atualmente, ambos cumprem pena na Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza, no Complexo de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste. A reportagem não conseguiu localizar a defesa dos ex-PMs.
A Supervia informou que se solidariza com as vítimas e repudiou o crime. A empresa disse que “os dois profissionais envolvidos no lamentável episódio foram imediatamente afastados de suas funções. E, após criteriosa apuração, demitidos”. A empresa não comentou sobre a indenização às famílias.
Em nota, a Defensoria Pública do Estado, que defende a família do jovem diagnosticado com esquizofrenia, informou que pediu a revisão do valor (R$ 60 mil) estipulado pela Justiça.
A Procuradoria Geral do Estado (PGE) disse que também vai recorrer.
Procurado, o governo do estado não comentou o caso.
Fonte: G1
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“A responsabilidade de tomar as providências técnicas necessárias para implementar essa determinação recai sobre cada uma das prestadoras, a partir de sexta-feira, 11/10. O tempo para a execução do bloqueio dependerá das medidas adotadas por cada empresa, de acordo com suas especificidades”, informou a Anatel em comunicado.
Setor será regulamentado
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