Câmeras inteligentes com reconhecimento facial, capazes de identificar suspeitos pela cor das roupas ou alertar sobre movimentos suspeitos, como pular muros, têm sido adotadas por governos para combater a violência urbana. Além de identificar suspeitos com base no relato de vítimas logo após crimes, esses sistemas ajudam a mapear padrões criminais, como rotas de fuga ou áreas com maior incidência de delitos.

Resultados e desafios
Curitiba (PR) e Santo André (SP) reduziram os roubos de veículos em 40% e 43%, respectivamente, após a implementação da “Muralha Digital”, que utiliza radares para identificar veículos roubados e monitorar suas rotas. Em São José dos Campos (SP), onde o Centro de Segurança e Inteligência (CSI) opera desde 2021, houve uma queda de 33% nos roubos.

Os equipamentos utilizados incluem leitores de placas e sistemas de reconhecimento facial que identificam procurados pela Justiça e desaparecidos. Em São Paulo, 10 mil câmeras inteligentes já estão em operação em locais estratégicos, como a Avenida Paulista e a Praça da Sé, com previsão de chegar a 20 mil até o fim do ano.

Entretanto, especialistas alertam para a necessidade de integrar a tecnologia a outras estratégias de segurança pública, respeitar protocolos de privacidade e evitar vieses racistas e falhas nos sistemas.

Avanços e preocupações
O projeto Smart Sampa, da Prefeitura de São Paulo, foi questionado judicialmente por possíveis violações à privacidade e ao cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Após ajustes, foi retomado com promessas de um rígido controle. A identificação de foragidos, segundo a gestão municipal, incluirá uma avaliação presencial das imagens capturadas.

Apesar das críticas, resultados práticos são apresentados. Na capital paulista, o sistema localizou pessoas desaparecidas e identificou veículos roubados. No Estado da Bahia, o uso de câmeras com reconhecimento facial capturou mais de 1.500 foragidos nos últimos quatro anos, incluindo um criminoso identificado enquanto participava do carnaval fantasiado.

Botões do pânico e inovação tecnológica
Além das câmeras, outras inovações têm sido incorporadas. Em São José dos Campos, guardas utilizam óculos equipados com inteligência artificial, que permitem reconhecimento facial e análise remota em tempo real. Dispositivos portáteis, como botões de pânico, são usados por vítimas de violência doméstica em cidades como Santo André e Itabira (MG).

Essas ferramentas permitem acionamentos rápidos, com localização em tempo real das vítimas, o que já resultou em prisões e proteção de mulheres em situação de vulnerabilidade. Botões de pânico também são utilizados em ambientes escolares e locais públicos estratégicos, como praças e parques, para prevenir roubos e furtos.

Tecnologia integrada para segurança eficaz
Especialistas reforçam que o uso de tecnologias avançadas precisa ser acompanhado por infraestrutura adequada, integração de dados e diálogo com a sociedade. “Só a tecnologia não resolve”, diz Marcelo Batista Nery, da USP, destacando a importância de bases de dados confiáveis e de legislações que garantam privacidade e evitem discriminações.

Johann Dantas, presidente da ANCITI, ressalta que ouvir as necessidades locais é essencial para implementar soluções eficazes. “O que funciona em uma cidade pode não funcionar em outra”, afirma, defendendo a personalização das estratégias tecnológicas para atender às realidades de cada município.

Fonte: Estadão